A ritinha

Sou uma criança diferente que precisa de cuidados especiais e do apoio incondicional da minha mãe e de toda a uma família (seja ela de sangue ou não) para acordar a cada novo dia.

Apesar dos meus olhos se estenderem para o infinito, do meu corpo responder apenas com o silêncio, tudo em mim sente o que em redor se passa. Ouço e retribuo o amor que me é oferecido e reconheço as pessoas e os seus gestos. A cada abraço da minha mamã a minha solidão é esquecida.

Vivo num mundo só meu... Todas os outros têm a razão, o pensamento, o preconceito, os conceitos, a sabedoria... Eu tenho tudo o que está cá dentro e que gostaria de repartir. É isto que me torna diferente, mas também é isto que me torna única.

Não vou poder andar contigo pela rua, não vou poder dizer o teu nome nem reconhecer a cor dos teus olhos, mas se me abraçares nos teus braços sentirás que não fico indiferente ao bocadinho que me puderes dar. Esse bocadinho é muito, tanto!... pois a maior riqueza é nada ter a perder e, por isso, dar sem esperar nada em troca. Eu também dou e nunca espero que as pessoas percebam que o estou a fazer.

Gostaria que olhasses para mim sem a estranheza ou o desejo de afastamento habitual porque, na aparência, sou também como os outros meninos. A minha mamã e os seus amigos sempre se esforçaram para que eu não tivesse deformações motoras, de forma a crescer mais e mais saudável.

Gostaria que me visses como uma princesinha e que aceitasses ser a minha fada. Eu assim, secretamente, dou-te um beijinho e, embora não o vejas agora, quando fores dormir, quando fechares os olhos e sonhares, encontrá-lo debaixo da almofada.

Há meninas que nascem com tudo e há meninas, que não nascendo com tudo, são princesinhas no seu sorriso. Todos nós precisamos de ouvir, ver, sentir coisas que nos alegrem. Todos nós precisamos de uma Fada Madrinha que agite a sua varinha e nos ofereça a possibilidade de concretizar os nossos sonhos.

Contudo, a Ritinha é uma menina especial, é uma princesinha que vê o mundo de olhos fechados, que o enfrenta com a solidão da palavra e, por isso, precisa de mais fadas do que é habitual...

Venha conhecer esta menina e agitar a varinha que possui (sim porque cada pessoa detém uma) para lhe conceder um desejo.